As ações de semeadura, concluídas em janeiro deste ano, foram realizadas em uma área total de 15,45 hectares.
São nos galhos altos das caraibeiras (Tabebuia aurea) que as ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) fazem seus ninhos. Os frutos desta árvore são um banquete para as aves, assim como sementes de pinhão (Jatropha mollissima) e faveleira (Cnidoscolus quercifolius). Estas são algumas das plantas nativas da Caatinga utilizadas pelo projeto RE-Habitar Ararinha-azul para recuperar áreas degradadas localizadas no interior e entorno do Refúgio de Vida Silvestre (RVS) e da Área de Proteção Ambiental (APA) da espécie, em Curaçá (BA). Executado pelo Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (Nema) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), o projeto realizou a semeadura de cerca de 125 quilos de sementes e irá concluir o plantio de aproximadamente 40 mil mudas.
As ações de semeadura, concluídas em janeiro deste ano, foram realizadas em uma área total de 15,45 hectares. Ainda no mesmo mês, as atividades de plantio começaram e, até o momento, já foram plantadas mais de 17 mil mudas, produzidas nos viveiros do Nema ou doadas por viveiristas parceiros. Este esforço está sendo realizado com o objetivo de tornar o ambiente mais favorável para o restabelecimento da população das pequenas aves azuis.
Uma das técnicas utilizadas para recuperação das áreas é a semeadura direta, popularmente conhecida como “muvuca”, que se baseia no ato de lançar sementes de diversas espécies diretamente no solo. É utilizada principalmente em áreas extensas, em estado inicial de regeneração ou com elevado grau de degradação. Assim, é possível realizar a cobertura vegetal do solo de maneira rápida e eficaz, de modo a desencadear os processos ecológicos.
Já na fase de plantio de mudas são executados os métodos de enriquecimento, que consiste na introdução de espécies em áreas com melhores condições, e de modelos de nucleação desenvolvidos pelo Nema especificamente para regiões de difícil recuperação. São plantadas mudas de espécies capazes de melhorar significativamente o ambiente, dispostas em formato de núcleos ou ilhas.
Para a seleção das 24 espécies vegetais que compõe as ações de plantio e semeadura, a equipe de especialistas do Nema definiu os seguintes critérios: elevado grau de ocorrência na região da bacia hidrográfica do rio Curaçá e a utilização das espécies pela ararinha-azul e/ou maracanã e pelos moradores da região. Todas as plantas são de utilidade para a população sertaneja, sendo a maioria de uso intensivo, como aroeira (Astronium urundeuva), xique-xique (Xiquexique gounellei), catingueira (Cenostigma pyramidale) e umbuzeiro (Spondias tuberosa).
“Levamos em consideração as espécies vegetais utilizadas pelas ararinhas-azuis como fonte de alimentação, dormitório e nidificação e também pelas comunidades tradicionais da região em suas atividade do cotidiano. Deste modo, colaboramos com a reintrodução da espécie na natureza e também com a qualidade de vida da população sertaneja local”, explica o diretor de pesquisa e planejamento do Nema, o ecólogo Fábio Socolowski.
Após o plantio, a próxima etapa será a realização de monitoramento da sobrevivência e do desenvolvimento das mudas nos núcleos, da cobertura do solo em áreas de semeadura e do sucesso da recuperação. Após um ano, as mudas mortas devem ser replantadas.
RE-Habitar Ararinha-azul - Projeto aprovado em chamada do GEF-Terrestre com financiamento do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). A iniciativa conta com a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento (Fade) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) como fundação de apoio responsável pela gestão administrativa.