SERÁ QUE AINDA DÁ TEMPO?

Coluna Semanal!

Começamos mais uma semana acompanhando os jogos olímpicos, torcendo discretamente pelos nossos atletas, sempre com a sensação de que algo mais poderia ter sido feito em relação aos nossos competidores. E não sei vocês, mas sempre que vejo um atleta brasileiro competindo com um jamaicano, americano ou japonês, fico me perguntando: o que está faltando?

Alguns podem até se chatear com os japoneses por se colocarem em nosso caminho e fazerem nossos atletas darem meia volta e se tornarem espectadores de seus esportes. Não tenho acompanhado as redes sociais direito, mas parece que Tiago Leifert foi cancelado por querer justificar que o Japão é um país de primeiro mundo, que possui equipamentos e treinamentos de última geração, algo mais ou menos nessa linha. Mas você já parou para ver o quadro de medalhas?

Engana-se quem achou que iria fazer um comparativo com a China ou Estados Unidos. Hoje, coloco minhas atenções sobre o celeiro de atletas olímpicos, a tão temida e imbatível Hungria. No momento em que escrevo este texto, esse país figura no quadro de medalhas em 13º lugar, com 3 ouros, 3 pratas e 2 bronzes, enquanto o Brasil está com 2 ouros, 4 pratas e 5 bronzes.

Antes que comece o melô do gato gago (mi mi mi...), vamos continuar as comparações. Em nosso território cabem 91 Hungria, e comparando as populações, seriam necessárias mais de 22 Hungria para termos a mesma proporção populacional. Sim, antes que eu esqueça, segundo o site Dadosmundiais.com, a Hungria tem um custo de vida mais alto que o nosso, uma inflação maior que a nossa e é quase tão corrupta e endividada quanto o nosso Brasil varonil.

Imagino que ninguém estivesse pensando na Hungria até pouco antes desse texto, mesmo assim, podemos tirar algumas lições em relação a prioridades. Num mundo de entretenimento, amamos torcer pelos nossos brazucas, mas não estamos dispostos a cobrar e acompanhar como os atletas de nossa cidade sobrevivem depois desses quinze dias de jogos.

Vibramos com as medalhas conquistadas, mas não nos indignamos com os atletas que vendem paçoca nos sinais para conseguir o dinheiro da passagem para competir. Vejo tanta dedicação de meus alunos levantando as bandeiras de seus políticos favoritos nesse período eleitoral, que fico me questionando onde eles poderiam chegar se estivessem aplicados dessa forma nos seus estudos, planejando seu futuro.

Os ciclos olímpicos são só mais uma demonstração de que vivemos em um país à deriva, onde nos preocupamos com nossos interesses, mesmo que para isso seja preciso sepultar o sonho olímpico de nossa nação. Somos o país do futuro, um futuro onde os atletas, após muito custo, quando conseguem chegar lá, são cobrados por não fazer o que não tiveram condições para ser feito.

Concluo defendendo que talvez não possamos mudar o futuro de nossa nação, mas com o mínimo de dedicação, podemos mudar o nosso futuro. Creio que ainda dá tempo trabalhar na realização de nossos sonhos e deixarmos de ser apenas espectadores de uma vida que insiste em passar tão rápido, para nos tornarmos protagonistas de nossos próprios jogos.

E paralelo a isso, acompanhar nossos atletas não apenas no crème de la crème dos esportes, mas nas competições locais e regionais, onde nossas medalhas são forjadas na escassez e resiliência.

 

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opiniao semana
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Professor Tiago Machado

Tiago Silveira Machado, Eng. de Produção Mecânica, com Mestrado em Eng. de Produção e cursando doutorado em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental. Trabalhando como Professor da Universidade de Pernambuco - Campus Salgueiro.

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