VALE A PENA RECLAMAR?

Coluna Semanal!

Na adolescência, aprendi uma lição de vida: só existem dois tipos de pessoas que são bem atendidas em estabelecimentos — os famosos e os barraqueiros. Algumas vezes coloquei essa lição em prática, não por ser famoso, mas pelo glamour de um bom barraco.

Apesar disso, também aprendi que, assim como a fama é passageira, muitas pessoas que te acompanham não gostam quando as atenções estão voltadas para elas. Enquanto aprendia a dosar o tamanho do barraco que criava em cada circunstância, comecei a refletir sobre duas questões: a covardia e o anonimato.

Sabe aquelas filas típicas da Caixa Econômica Federal no início do expediente? Quando o descaso chega ao nível de destrato e alguém manifesta sua indignação, rapidamente surgem três ou quatro pessoas apoiando o protesto. Mas, quando os manifestantes são confrontados, é impressionante como a covardia toma o protagonismo, deixando o "barraqueiro" no bloco do "eu sozinho".

Todos querem que alguém faça algo, mas ninguém quer ser esse alguém que toma a atitude necessária e assume o bônus e ônus deste protagonismo. No entanto, depois que a ação é concluída, o que mais aparece são oportunistas, idealizadores e protagonistas de última hora.

Um ótimo exemplo são os pais da UPE Salgueiro. Desde que assumi no Campus, conheci pelo menos cinco "pais" que se dizem responsáveis pela implementação da Universidade de Pernambuco na cidade. Um deles, inclusive, chegou a afirmar com a chegada da UNIVASF na cidade, que, finalmente, Salgueiro tinha uma universidade pública de qualidade.

Esse "pai educacional", de forma bastante oportuna, fez vista grossa à sua “filha” estadual, ignorando a existência do Instituto Federal do Sertão, enquanto tentava destacar seu protagonismo na articulação para a implementação do novo Campus. Todo mundo quer ser pai, mas ninguém quer pagar pensão, nem quer garantir que sua prole educacional tenha sucesso na cidade. Isso nem traz fama e ainda pode gerar barraco, devido à falta de condições adequadas de trabalho dos servidores e professores.

No espectro oposto da fama perseguida por atores sociais e políticos, temos o anonimato. Recentemente, me peguei pensando nas vantagens de passar despercebido, e elas são muitas — talvez fale mais sobre isso no futuro. Mas o que quero destacar agora é como o anônimo pode garantir que sua reclamação seja ouvida.

Assim como a fama foi democratizada com o sucesso das redes sociais, o anonimato também assume protagonismo nas avaliações de serviços, seja atribuindo estrelas no Google, preenchendo formulários de avaliação ou relatando sua experiência para amigos, conhecidos e vizinhos.

Resumindo, vale a pena reclamar, desde que sua reclamação chegue a alguém que possa resolver o problema. Por outro lado, se você é o reclamado, antes de vociferar e responder à altura da queixa, procure entender por que ela chegou até você. Pode ser que você seja a pessoa que pode resolver o problema ou, ao menos, dar o direcionamento adequado ao reclamante.

Assim como existem pessoas que reclamam apenas pelo prazer de desabafar, há também aquelas que reclamam porque acreditam que as coisas podem melhorar. No final das contas, estamos todos nessa jornada evolutiva, mas só saberemos onde melhorar se pararmos um pouco para ouvir o que se passa ao nosso redor.

 

Author
Professor Tiago Machado

Tiago Silveira Machado, Eng. de Produção Mecânica, com Mestrado em Eng. de Produção e cursando doutorado em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental. Trabalhando como Professor da Universidade de Pernambuco - Campus Salgueiro.

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