Carrero: um grande leitor de vidas

Marcela Dantés Escritora, mineira, ganhadora do Prêmio Oceanos

Todo mundo diz que para ser um bom escritor é preciso antes ser um grande leitor. Eu sempre entendi essa frase pelo seu caminho óbvio: um grande escritor de livros, um grande leitor de livros. Mas aí a gente se depara com coisas que ampliam a nossa perspectiva. Mergulhar nesse Condenados à vida, editora Cepe, de Raimundo Carrero trouxe um significado todo novo: é um tratado sobre a vida: o autor é, antes de tudo, um grande leitor de vida, de humanidades. Das pessoas, suas cruezas, belezas, seus caminhos tortos. Essas mais de 700 páginas, conjunto definitivo que une quatro grandes romances do autor, são um tratado sobre a vida, no que ela tem de mais bonito e indigesto.

Um mestre é um mestre. Raimundo constrói suas personagens com perfeição, a decadência humana estampada em cada gesto, em cada escolha, em cada destino. A leitura flui porque não tem nada, um ponto, uma palavra, absolutamente nada fora do lugar. O texto é rio, e não rara as vezes que nos pegamos totalmente submersos naquele universo infinito, sem escutar o que quer que aconteça do lado de fora, a criança que chama, a batida do carro na outra esquina, um telefone incessante. Estamos presos, condenados àquelas vidas absurdas e tão verdadeiras.

Ler os quatro romances Maçã Agreste (1989), Somos Pedras que se Consomem (1995), O Amor não tem Bons Sentimentos (2007) e Tangolomango (2013) num fôlego só confirma aquilo que a gente já sabia: Raimundo sabe o que faz. A gente, no que puder, aprende com ele. Tão simples quanto isso.

Fonte: Diário de Pernambuco

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pernambuco
Author
Thiago Lima

Thiago de Lima Silva, natural de Salgueiro-PE, tem 31 anos. Iniciou no Rádio aos 17 anos de idade.

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