Artigo: Dom Henrique Soares da Costa 1º ano de sua Páscoa

“...era um homem justo, íntegro entre seus contemporâneos, e andava com Deus” (Gn 6,9).

Nos idos de 1997, por ocasião de minha transferência como frade capuchinho para residir no Convento de Maceió, conheci o então Cônego Henrique Soares da Costa, com quem tive a graça de conviver fraternalmente, de tê-lo como confessor e de ver nascer e enraizar uma amizade cara que muito nos edifi cou como homens e como sacerdotes.

Os Claustros dos nossos conventos testemunharam a sua fraternidade e sua alegria contagiante e, em nossa Diocese, foi professor de muitos padres e uma presença amiga nos grandes momentos da história desta jovem Diocese. Gratidão!

Lá, na Igreja do Livramento, estava o grande orador sacro: abnegado e zeloso padre e pastor, um homem de Deus, um homem de fé. Um Intelectual que, com muita alegria, leveza, esperança, fi rmeza e simplicidade falava do Cristo e de suas misericórdias com sabedoria singular, para os que estavam combalidos.

Falava de Deus e a eloquência de suas palavras fazia brotar no coração de todos o amor pelas Sagradas Escrituras, o desejo de santidade, despertando os fi éis da cidade de Maceió para o conhecimento e a melhor vivência da fé que professavam.

Com maestria, e tal como pediu São Francisco a Santo Antônio quando este ensinava teologia aos frades, que ministrasse sem que o estudo desta afastasse o espírito da santa devoção e da santa oração.

Contagiava e encantava a todos que o ouvia, revelando não só a segurança e a convicção daquele que se debruça sobre o estudo da Teologia, mas sua incansável entrega e o amor com que falava das coisas de Deus.

A sua eloquência emanava da alma; a sua grandeza era expressa na santidade de sua vida e a sua fé era humanamente divina e divinamente humana. Indubitavelmente, como um farol, teve sua vida a iluminar a todos que singravam os mares bravios da existência.

Foi um homem à frente do seu tempo quando, com incipientes recursos da internet, através da então página www.padrehenrique. com, usava a ferramenta como um celeiro de pregação, de formação, com artigos sobre as mais variadas questões, como forma de se fazer presente até para aqueles que não o conhecia, porque nele havia a certeza do chamado: “Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”.

E, com o passar do tempo e o avanço das tecnologias, não hesitou em ir além: as redes sociais também eram púlpito para o seu sacerdócio porque muitos eram os filhos de seu ministério, incontáveis os rastros de Deus deixados nos corações dos que, sedentos, o seguiam na certeza do encontro com a Palavra e com o Pai, com o aprofundamento da doutrina católica que ele, tão bem, traduzia com firmeza e simplicidade, sem, jamais, afastar-se da misericórdia!

Em seu coração havia sempre uma palavra segura, ortodoxa, misericordiosa e amorosa. Nunca deixou que nenhum penitente saísse do confessionário ou de uma orientação espiritual sem que levasse consigo o amor de Deus, a disponibilidade e força para lutar pela conversão. Sem dúvida, era um homem que exalava o odor de Cristo com o seu sorriso, com o seu olhar e com o seu coração, porque grande era sua entrega àquele a quem muito amou.

Era um irmão e amigo que dizia com precisão e amor o que o nosso coração precisava ouvir, não tinha medo de falar daquilo que era sua experiência de vida.

Incansável era o seu coração para servir à Igreja de Deus. Ainda como padre, e depois como Bispo, pregou inúmeros retiros, assessorou formação para diversas dioceses, seminários, destacando-se como exímio e santo pregador da boa nova.

Quando pregava a palavra de Deus, inebriava os corações, reerguia os caídos, animava os tristes, sarava os corações feridos, alegrava a todos com a seu bom humor e impressionava por sua genialidade de traduzir, em linguagem simples, a profundidade do amor de Deus, da Teologia e do Evangelho.

Ao valer-se de expressões próprias da nossa cultura, tão presentes no seu modo de falar, semeava tanto no coração dos doutos quanto dos simples: a verdade do Evangelho.

Olhares vibrantes, atônitos, sequiosos de Deus e esperançosos pelo bálsamo penetrante da Palavra, voltavam-se para o pequeno- -grande pastor, pregador por excelência, que parecia brincar com as palavras para comunicar ao seu rebanho o amor de Deus.

Sua voz soava de forma aguda e penetrante, sem jamais tornar-se cansativa aos ouvidos e corações dos que o ouviam. Amado e querido por todos que dele se aproximava, deixou o perfume da santidade por onde passou.

“Dom Henrique vem celebrar, Dom Henrique vem pregar...” Anúncios assim davam a certeza de que jovens, meninos, adultos, os de “juventude acumulada”, seminaristas, padres e bispos, todos estavam à espera daquele sorriso cheio de Deus e de esperança, a aquecer os corações com sua pregação. Palavras fortes e verdadeiras que, pronunciadas com amor próprio de quem comunica o que acredita e vive, ecoava no mais íntimo de nossa alma, perpassando nosso coração até se transmudar em sonhos e projetos de conversão.

A voz e a mensagem de Dom Henrique se eternizaram na memória, na alma, nos corações de muitos padres e seminaristas. Como não poderia deixar de ser, continua viva e eficaz no mundo digital, como um celeiro para os tempos de hoje, onde a fome, a sede de valores humanos, morais e cristãos atormentam e adoecem a sociedade.

Quantos o conheceram depois da sua morte? Seu projeto de evangelização pelo mundo virtual, nascido antes mesmo de a internet atingir a proporção atual, tem alcance inimaginável!!!

Hoje, através da disponibilização do seu canal, do número dos seus seguidores, dos depoimentos que lá existem, só nos mostra que suas palavras não se perderam no tempo nem foram lançadas em terras pedregosas, nem jamais se perderão. Do contrário: elas continuam sendo plantadas e vicejam abundantemente em cada coração que rememora o pequeno grande pregador, através dos clicks que tem o condão de trazer à memória, aos ouvidos e ao coração, aquele que se eternizou com sua forma de amar a Deus e revelá-lo na sua forma de falar, de acolher e de pregar.

Dom Henrique era um homem cheio de santidade, um nordestino com um santo orgulho por ser alagoano, cujo sotaque não só o identificava, mas o fazia parte de um povo a quem tanto amava. Sorriso livre, olhar profundo e vivo, coração acolhedor. Grande teólogo, grande Bispo, alma grande. De pequenez, somente a estatura e os seus defeitos.

E se ou quando sobrevier a tentação de perguntar: por que ele se foi tão cedo, se ainda tinha tantas aulas para lecionar, tantas searas para pastorear, tantos homens e mulheres para quem mostrar o caminho, tantas vocações à espera da sua orientação?

É preciso lembrar o que ele mesmo falou quando pensava sobre a sua morte, enfatizando que não o fazia de forma triste: “Senhor, eu te busquei a vida toda e agora, com toda a confiança do meu coração, eu pulo nas tuas mãos”.

Henrique se foi silenciosamente, despojado de tudo e de todos. Fez a experiência da dor e da solidão, guardou a fé que tanto viveu e pregou.  Nos últimos dias ainda testemunhou sua experiência profunda de Deus e presenteou a sua família e a nós com sua “última pregação”: “A minha vida pertence a Deus. O corpo está fragilizado, mas o espírito está forte e preparado”.

Henrique sempre nos embalou quando falava de escatologia, dos novíssimos e nos chamava a preparar a nossa caminhada para a Jerusalém celeste. Partiu cedo para nós, aos 57 anos de vida... um dia, no céu, saberemos os motivos de sua partida e, certamente, ouviremos dele uma bela gargalhada, um sorriso pleno nos dizendo: “Veja”, “Cabra da peste”, Deus tem os seus planos e os seus desígnios! Tanto que eu ensinei...

Pela graça de Deus, um dia, nos encontraremos na festa do céu e juntos, cearemos com a mesma alegria de sempre.

Dom Magnus Henrique Lopes, OFMCap.

Bispo Diocesano de Salgueiro

Tags:
catolica
Author
Thiago Lima

Thiago de Lima Silva, natural de Salgueiro-PE, tem 31 anos. Iniciou no Rádio aos 17 anos de idade.

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