Dom Hélder na Intimidade

“Durante o dia me espalho em pedaços, na vigília eu os reúno em Deus”, Dom Helder

O interesse pela obra do brasileiro que mais indicações recebeu ao prêmio Nobel da Paz  (foram quatro) faz de qualquer livro um best seller. Lançado em 2012 e esgotado desde o final de 2018, Além das ideias - Histórias de vida de Dom Helder Camara, já foi reimpresso em anos anteriores e agora ganha uma segunda edição da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). Escrito pelo jornalista Félix Filho, o título conta histórias cotidianas do bispo, prestes a ser reconhecido santo pelo Vaticano.

“Minha intenção é apresentar o nosso querido Dom ao maior número de pessoas, de todas as classes sociais. Gostaríamos que conhecessem Dom Helder como nós, na sua intimidade, no relacionamento com as pessoas, no cotidiano”, diz o autor sobre o religioso.

Numa das histórias, Félix conta que Dom Helder não possuía carro e nem costumava usufruir do automóvel oficial da arquidiocese, um direito à disposição do arcebispado. Quando precisava saía às ruas em busca de táxi. Mas na maioria das vezes não chegava a andar nem 100 metros sem que um ou mais cidadãos motorizados parassem para lhe oferecer carona. Os amigos o advertiam do perigo em aceitar a oferta naqueles tempos sombrios de repressão política, quando vivia sob ameaça constante. 

“Num dia, porém, ao sair de casa a pé, como sempre fazia para pegar um táxi na esquina mais próxima, notou que um carro diminuiu a velocidade e se aproximou da calçada. Colocando a cabeça para fora do veículo e dirigindo-se ao arcebispo, o motorista gritou: ‘seu filho da p…’. Dom Helder não se fez de rogado. Olhou calmamente para o motorista e respondeu de pronto, com um bom humor que lhe era característico nessas situações: – Deus te leve, meu querido irmão. A mulher do motorista olhou para o marido e disse: ‘Taí o que você queria!.’’’

Em outro dos 36 relatos contidos no livro, o autor conta que dona Adelaide desde cedo chamava o filho de José, apesar do nome de batismo, Helder. Mais tarde, em homenagem à mãe, começou também a chamar seu anjo da guarda de José. Em 1950, durante a peregrinação à Roma, Dom Helder esperava na fila para rezar sua própria missa, já que não havia a prática da concelebração eucarística. Félix Filho diz que na igreja  havia um frade franciscano que, missa após missa, ajudava seus colegas. Como imaginava que não houvesse mais nenhum sacerdote na fila, se preparou para ir embora quando viu Helder à espera. Estava desde cedo naquela função e não gostou que ainda precisasse ficar para mais uma missa. Estava cansado, passava do meio-dia e tinha outros afazeres.

“Percebendo que o frade não estava disposto a ajudá-lo na celebração da missa, o padre Helder foi logo se desculpando:

– Nosso Senhor bem sabe da vontade que eu tinha de rezar a missa hoje, mas por certo me permitirá que eu o faça amanhã. O frade, mesmo descontente com a situação, começou a preparar o altar para a missa.

– Não se inquiete, meu bom irmão. Tenho comigo o meu anjo da guarda, e ele me auxiliará na missa, disse despedindo o franciscano. O frade não acreditou e desdenhando repetiu, com sorriso nos lábios: “Seu anjo? Seu anjo?”.

Neste momento, conforme relato do próprio Helder, ocorreu algo maravilhoso. “Pareceu-me ocorrer algum fenômeno elétrico... a igreja se viu tomada por intensa luminosidade e o pobre franciscano tombou de joelhos, tremendo e chorando o tempo todo”.

A história do próprio autor é curiosa. Félix foi o último padre da Arquidiocese de Olinda e Recife ordenado por Dom Helder, em agosto de 1984. Após três anos de sua ordenação, tornou-se vigário de Ponte dos Carvalhos, distrito do município do Cabo de Santo Agostinho, onde conheceu sua futura esposa, Fernanda. Hoje é um dos mais combativos militantes da causa dos padres casados, considerados pela Igreja como desertores, denominados ex-padres como forma de desacreditá-los. 

SOBRE O AUTOR

Félix Filho é jornalista profissional, trabalhou no Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Estadão, TV Manchete, TV Globo Recife e Secretaria de Imprensa do Governo de Pernambuco. Cursou também Teologia no Instituto de Teologia do Recife (Iter). Foi o último padre ordenado por Dom Helder Camara na Arquidiocese de Olinda e Recife. Por duas vezes foi diretor do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano. Membro do Comitê Nacional do Programa Memória do Mundo da Unesco. Cineasta com participação ativa no Movimento Super-8 de Pernambuco. Félix também é autor do livro Um retiro popular - Quaresma e Semana Santa em Escada (Paulinas, 1987). 

SERVIÇO

Preço do livro: R$ 35,00 (impresso) e R$ 14,00 (e-book) 

Fonte: CEPE

Tags:
pernambuco
Author
Thiago Lima

Thiago de Lima Silva, natural de Salgueiro-PE, tem 31 anos. Iniciou no Rádio aos 17 anos de idade.

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