MARTELANDO COM CHAVE ESTRELA

Opinião semanal!

Semana passada, me deparei com uma situação que não enfrentava há mais de oito anos. O ano era 2016, e eu fazia a rota João Pessoa – Salgueiro – João Pessoa. Além dos perigos comuns da estrada, como um jumento ou cabrito atravessando a pista, uma carreta desgovernada vindo em sua direção, ou um pneu estourando e deixando o carro fora de controle, havia outro desafio. Depois do dia em que furei dois pneus por causa de grampos colocados por uma quadrilha que estourava caixas eletrônicos em cidades do interior, lá estava eu novamente na estrada. O sol brilhava intensamente, por volta das 14h, quando os veículos começaram a parar.

Inicialmente, pensei que fosse um acidente — fumaça preta nunca é um bom sinal. Mas, ao me aproximar, deparei-me com a cena de meia dúzia de homens, com bonés vermelhos e foices nas mãos, queimando pneus e bloqueando a estrada. Quando perguntei sobre o motivo do bloqueio, me informaram que era um protesto contra o impeachment da ex-presidente Dilma.

A fila de carros aumentava, o calor era insuportável e o telefone estava sem sinal. Quem estivesse insatisfeito, que desse meia-volta. Mas voltar para onde, se o destino estava à frente? Não foram poucas as vezes que me deparei com cenas semelhantes: aulas canceladas, comida estragada, mas uma pergunta nunca era respondida: Como esse bloqueio ajudaria no protesto contra o impeachment?

A história vocês já conhecem. Após quase 10 horas de sessão, 367 votos validaram o impedimento do mandato presidencial, mostrando que de nada adiantou queimar pneus, bloquear estradas e ameaçar motoristas e caminhoneiros. Mas uma coisa foi conseguida: gerar uma insatisfação e impaciência gigantescas contra os bloqueadores de estradas.

Como em uma cena de "NÃO vale a pena ver de novo", sigo para Petrolina. Mas, a pouco mais de 500 metros do Posto da Polícia Rodoviária Federal, vejo a assombrosa cena de pneus e galhos queimados, fechando os quatro sentidos do trevo do Ibó. Conhecendo a situação, busquei entender o motivo do protesto. Dessa vez, o problema era a falta de energia para o sistema de irrigação dos manifestantes.

No entanto, observei algumas situações curiosas. O bloqueio era seletivo: além dos veículos preferenciais, todos os veículos adesivados com uma certa coligação passavam; qualquer outro tinha que dar meia-volta ou esperar. Veículos oficiais passavam, mas entregas com data e hora para chegar tinham que ficar, pois não havia previsão de liberação.

A maior queixa dos caminhoneiros era que, em 2018, a PRF, que aplicou mais de R$ 700 milhões em multas, se mostrou incapaz de liberar as estradas neste cenário. Outro fato curioso é que, se meu IPVA estiver atrasado, meu carro é apreendido. Provavelmente, o policial não vai querer ouvir minha triste história, e mesmo que escute, estará cumprindo seu papel, agindo no rigor da lei.

Já tentou martelar um prego com uma chave estrela? Mesmo que você seja extremamente habilidoso, ainda assim, não conseguirá fixar o prego de forma adequada, pois está utilizando a ferramenta errada para completar a tarefa. O mesmo acontece quando você cria um transtorno para alguém que não tem o que fazer, esperando que isso ajude a solucionar o problema que você enfrenta.

Vivemos em tempos em que o mundo parece estar invertido, onde o vilão vira mocinho e a polícia vira vilã. O muro anda no gato, enquanto ele é caçado pelo rato. E sobre os protestos? Proteste para quem tem como resolver. Se não for assim, por mais nobre que seja a sua causa, você apenas será visto como mais um vagabundo bloqueando a estrada da vida.

 

Author
Thiago Lima

Thiago de Lima Silva, natural de Salgueiro-PE, tem 31 anos. Iniciou no Rádio aos 17 anos de idade.

Image
Image
Image
Image
Image
Image
Image
Image
Image
Image
Contador de visitas