Trabalho traz novas perspectivas sobre o comportamento e as estratégias de sobrevivência do primata
Estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) identificou e caracterizou locais de uso de pedras como ferramentas por um grupo de macacos-prego-galegos (Sapajus flavius), uma espécie ameaçada de extinção. Publicado no American Journal of Primatology, o trabalho mapeou 215 locais de quebra na Caatinga dentro do Monumento Natural do Rio São Francisco (MNRF) – onde a espécie usa as pedras como ferramentas –, trazendo novas perspectivas sobre o comportamento e as estratégias de sobrevivência desse primata.
A pesquisa foi conduzida pela mestranda Maria Gabriella Rufino, orientada pelo professor visitante João Pedro Souza-Alves, ambos vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal (PPGBA) da UFPE. José Jucimário da Silva, também co-autor, contribuiu significativamente para a coleta e medições de dados para o artigo. Ele integra a Coordenação de Transportes da Universidade. O estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe) – através da bolsa de mestrado da pesquisadora Maria Gabriella Rufino –, pela organização Re:Wild e contou com o apoio do Instituto SOS Caatinga.
Originalmente considerado restrito à Mata Atlântica, o macaco-prego-galego foi encontrado na Caatinga há poucos anos. Esse ambiente desafiador, marcado por baixa disponibilidade de recursos durante os períodos de seca, estimulou o uso de pedras como ferramentas para acessar alimentos protegidos por cascas duras, um comportamento raro documentado em apenas sete espécies de primatas no mundo. Esse estudo apresenta os primeiros dados sistemáticos sobre esse comportamento na Caatinga, contribuindo para a conservação da espécie e de seu habitat.
Os pesquisadores realizaram oito meses de expedições no MNRF, georreferenciando locais de uso de ferramentas e analisando as dimensões e pesos de pedras utilizadas como bigornas e martelos. As bigornas, maiores que os martelos, serviam de suporte para a quebra de alimentos, enquanto os martelos variavam em tamanho e peso conforme a dureza do alimento.
Entre os alimentos processados, destacaram-se os frutos da faveleira (Cnidoscolus quercifolius), espécie nativa, e da amendoeira (Prunus dulcis), espécie exótica. Martelos maiores e mais pesados eram utilizados para abrir as sementes de amendoeiras, evidenciando a relação entre as características das ferramentas e a resistência dos alimentos.
A pesquisa fornece uma base para ações de conservação, alinhando-se ao Plano Nacional de Ação para Conservação dos Primatas do Nordeste. A inclusão de espécies exóticas na dieta, como a amendoeira, mostra a adaptabilidade dos macacos-prego-galegos, mas também alerta para a necessidade de estudos mais aprofundados sobre os impactos dessa dependência em longo prazo.
Além disso, o estudo reforça a importância de proteger habitats como o MNRF, promovendo a preservação de locais de uso de ferramentas, que são essenciais para o aprendizado e a transmissão cultural entre as gerações do grupo de macacos.