Livro cataloga bens confiscados dos Jesuítas expulsos do Brasil no século 18

Com 396 páginas, o livro serve como uma fonte primária para historiadores, economistas e linguistas

Entre os séculos 16 e 18, padres da Companhia de Jesus viveram em terras pernambucanas para catequizar indígenas e fortalecer a campanha da igreja no Novo Mundo, a partir de 1551. Ao longo desse período, esses religiosos acumularam muitos bens, como imóveis, escravos e animais, entre outras posses. Contudo, perderam tudo quando foram expulsos do Brasil pelo Marquês de Pombal, em 1759. A lista dos bens confiscados aos jesuítas, inédita em livro, está sendo publicada em Bens dos Jesuítas - Bens Livres e de Encargo Pertencentes aos Colégios de Olinda, Recife, Paraíba e Ceará, da Cepe Editora.

Com 396 páginas, o livro serve como uma fonte primária (escrita por quem viveu a história naquele momento) para historiadores, economistas e linguistas. “A publicação pode suscitar muitas pesquisas”, afirma Gilda Verri, que organizou o livro com Ana M. Santos Pereira. O documento original, manuscrito, é de propriedade do Instituto Arqueológico, entidade cultural sem fins lucrativos fundada em 1862, no século 19. O livro também traz um texto do arquiteto e urbanista José Luiz Mota Menezes, falecido no dia 6 de setembro, aos 85 anos. Ele  indica, quando possível, a localização atual de cada um dos bens declarados. Além de mapas antigos que mostram como era o Recife no tempo em que os padres jesuítas viveram no Brasil colonial.

O título contém a transcrição paleográfica do manuscrito e uma versão atualizada do documento de acordo com as regras ortográficas em uso no País. “É importante oferecer as duas opções de leitura porque o livro fica acessível ao público em geral e ao mesmo tempo preserva a ortografia antiga, o modo como se escrevia no século 18, para pesquisadores da área de linguística”, observa Gilda Verri.

No manuscrito há anotações de diferentes escrivães que registraram, de 1765 a 1768, o destino dado aos bens dos padres: quem comprou e quanto pagou. Depois do confisco, o governo português se desfaz de casas no Recife, em Olinda e em outras localidades, de engenhos de açúcar e fazendas de gado na zona rural e de escravos. Um economista que estuda o tema da escravidão vai encontrar no livro o preço de venda de escravos e escravas, assim como o valor de imóveis, diz ela.

A lista dos bens dos jesuítas ficou desaparecida por mais de 70 anos, até ser recuperada pelo Instituto Arqueológico em 2007, quando o primeiro secretário da entidade, Reinaldo Carneiro Leão, a encontrou numa livraria antiquária em São Paulo. Ele conta essa história na apresentação do livro. O documento foi restaurado e desde 2012 é reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Memória do Mundo do Brasil (MoW Brasil).

“Bens dos Jesuítas, uma parceria com o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, é uma publicação que traz à tona uma obra essencial para quem quer entender um pouco mais da história pernambucana. É um documento raro, precioso, utilizado por historiadores e que a Cepe edita numa forma de tentar preservar essa memória e levá-la ao conhecimento do público em geral e do público especializado”, declara o jornalista e editor da Cepe, Diogo Guedes.

Tags:
pernambuco
Author
Thiago Lima

Thiago de Lima Silva, natural de Salgueiro-PE, tem 31 anos. Iniciou no Rádio aos 17 anos de idade.

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